Encontro de hackers termina em bate-boca, seguranças agindo e processo na Justiça



Encontro de hackers termina em bate-boca, seguranças agindo e processo na Justiça

 

A conferência de cibersegurança Black Hat USA, em Las Vegas, ficou muito mais animada este ano, com direito a vaias, bate-boca e processo judicial de uma empresa participante contra os organizadores e contra outras pessoas presentes numa palestra. A confusão incluiu também uma discussão relevante: qual vai ser o papel da inteligência artificial e da computação quântica em proteger (ou invadir) nossos dados e transações.

A história começou com um paper sobre computação publicado em março pelo físico e cientista de dados Talal Ghannam e pelo empresário e investidor Robert E. Grant.

Ghannam, além de entender de tecnologia, escreve histórias em quadrinhos. Ele trabalha para seu co-autor, Grant, que é uma figura mais exuberante. Com formação em administração, já foi CEO da Bausch & Lomb e se apresenta como alguém com conquistas notáveis nos seguintes campos (respire): criptografia, matemática, cibernética, eletromagnetismo,  biofotônica, genética, escultura e música. Seu negócio atual (no qual seu co-autor Ghannan trabalha), a Crown Sterling, em Newport Beach, California, oferece serviços de criptografia.

No artigo publicado em março, a dupla de autores defendia ter encontrado um padrão infinito nos números primos e, com isso, ter descoberto um método para quebrar criptografia hoje ainda considerada inviolável, mesmo por computação quântica. O artigo não passou pela revisão por pares.

Meses depois, no início de agosto, Grant se colocou na suspeita posição de tentar vender um remédio para a doença que ele mesmo havia apresentado. Na conferência Black Hat, afirmou que sua empresa desenvolveu um produto chamado Time A.I., que usa inteligência artificial e computação quântica para criar uma nova forma de criptografia, completamente revolucionária -- e que essa, sim, seria inviolável.

Além do vídeo promocional do novo produto, em tom de ficção científica, a exposição de Grant na conferência incluiu uma salada de referências a proteção "pentadimensional", polígonos, música composta por I.A., Sequência de Fibonacci e unificação da Relatividade com a física quântica.

Os profissionais de cibersegurança presentes não gostaram -- vários começaram a vaiar Grant. Houve bate-boca e alguns mais alterados foram removidos da sala por seguranças. A polêmica se estendeu em críticas ao obscuro material de divulgação da Time A.I. e em discussão pelo Twitter, com Grant desafiando quem quisesse testar seu novo modelo criptográfico.

Na semana passada, o site Ars Technica revelou que Grant está processando os organizadores da Black Hat USA (o site também afirma que uma ferramenta matemática defendida pelo empresário é usada em numerologia e ocultismo). O motivo do processo é que Grant foi patrocinador do evento e se considerou exposto de forma inadequada. Ele também está processando 10 outros presentes à conferência que teriam provocado o tumulto -- na visão do empresário, pessoas a serviço de concorrentes, que tentaram ridicularizar sua descoberta revolucionária.


Fonte: Época Negócios