A era de ouro das estrelas digitais regionais ameaça o reinado americano



A era de ouro das estrelas digitais regionais ameaça o reinado americano

 

Os titãs digitais globais não parecem estar perdendo, mas são cada vez mais desafiados por poderosos atores nacionais ou regionais.

A internet global está se tornando um pouco menos americana, e isso pode ser simultaneamente emocionante e perturbador.

Estou um pouco obcecada com estrelas regionais do comércio eletrônico como a Coupang, na Coreia do Sul, e a Jumia, em partes da África, e como estão conseguindo superar a Amazon (até agora).

Seu sucesso pode evidenciar uma evolução, longe dos serviços on-line que formam uma bolha global homogênea – e em grande parte dominada pelos americanos. E isso mostra que agora podemos estar no auge de uma era de ouro de especialistas digitais nacionais ou regionais.

Num momento em que muitas pessoas e autoridades eleitas se veem ansiosas com o poder que a maioria das gigantes tecnológicas americanas e chinesas tem de moldar crenças e remodelar economias, é bom que haja mais alternativas ao domínio da Big Tech. Mas também há algo mágico nos serviços de internet compartilhados globalmente.

Vamos começar com uma breve história da internet: em seus primeiros 25 anos, as empresas americanas – e, mais recentemente, as chinesas – foram em grande parte as forças globais dominantes. O Facebook e seus Instagram e WhatsApp, a Netflix, o Uber, a Didi Chuxing e o TikTok ganharam força em muitos países.

Os titãs digitais globais não parecem estar perdendo, mas são cada vez mais desafiados por poderosos atores nacionais ou regionais. Existem empresas regionais de e-commerce, como a MercadoLibre na América Latina e a Tokopedia na Indonésia. O Twitter é influente na Índia, mas o Koo, bem parecido, está ganhando terreno. As potências tecnológicas americanas olham com inveja para o Grab e o Gojek, no Sudeste Asiático, que oferecem transporte em scooters, penteados ou empréstimos mediante aplicativos.

Há várias razões para a ascensão das estrelas digitais locais. Em primeiro lugar, alguns países estão impondo mais bloqueios aos serviços de internet estrangeiros. A Índia bloqueou um monte de aplicativos chineses, incluindo o TikTok, no ano passado, durante um impasse na fronteira, e isso ajudou a criar uma corrida de serviços digitais desenvolvidos na Índia. O governo russo tenta estimular as pessoas a usar serviços de internet domésticos como uma maneira de evitar que a dissidência viralize em momentos de crise.

Mas o surgimento dos serviços locais de internet nem sempre é resultado do protecionismo e do nacionalismo. Em alguns casos, as empresas nacionais estão prosperando ou deixando de lado as superpotências tecnológicas globais porque são realmente boas no que fazem.

Pode ser ótimo ter alternativas aos gigantes da tecnologia, mas me preocupo com o que perdemos se deixarmos de ter momentos de cultura compartilhada no YouTube ou afeto pela Amazon em comum. Talvez você me ache boba, mas acredito que há elementos de uma internet global que nos aproximam um pouco mais. (E às vezes destroem tudo. É bem complicado.)

Em parte porque o YouTube e o Spotify são populares em Bogotá, na Colômbia, Bangalore, na Índia, e Boise, em Idaho, o mundo dividido compartilha o amor pelo reggaeton e pelo K-pop. Quando grande parte do planeta usa sites como Facebook e Twitter, manifestações pró-democracia em Hong Kong ajudam a estimular movimentos de protesto na Tailândia e em Mianmar.

Estou feliz com o fato de que a Coupang possa prosperar atendendo ao amor sul-coreano por compras on-line. Os indonésios merecem corporações locais que saibam do que precisam melhor que um gigante tecnológico distante. Espero também que possamos manter os bons aspectos da vida compartilhada na internet.

Fonte: EXAME