Ética digital será fundamental para a sobrevivência dos negócios, aponta Avanade



Ética digital será fundamental para a sobrevivência dos negócios, aponta Avanade

 

Para o relatório Avanade Trends, com avanço em inteligência artificial e big data, as empresas não só ganham mais possibilidades, mas também mais responsabilidades.

Á medida que mais empresas passam pelo processo de transformação digital, outra questão entra em pauta: a ética digital. De acordo com o relatório Avanade Trends, que avalia tendências no mercado, a ética digital será fundamental para a sobrevivência das empresas. Mas o que é isso? De acordo com o próprio relatório, é criar confiança com o cliente e o colaborador. “A ética precisa estar na base da transformação digital”, diz a Época NEGÓCIOS Marcelo Serigo, líder de inovação tecnológica para growth markets da Avanade. “Ela é um guia que auxilia a desenhar os passos que precisam ser dados.”

Não se engane ao achar que ao menos as grandes empresas de tecnologia do mundo estão preparadas para esse debate. Apenas um dia depois da notícia de que poderiam ser investigadas por práticas de concorrência desleal, Apple, Amazon, Google e Facebook perderam US$ 131 bilhões em valor de mercado. O Facebook, aliás, tem se envolvido com escândalos de privacidade desde 2016, quando estourou o caso da quebra de privacidade de usuários explorada pela Cambridge Analytica durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Mas toda e qualquer empresa vai se deparar com essa discussão, cedo ou tarde. Isso vai acontecer com a disseminação de tecnologias digitais, como inteligência artificial (IA), big data e automação. Esses dilemas éticos envolvem dúvidas como até onde dados de usuários podem ser coletados e usados. Segundo a pesquisa, essas questões já fazem parte do ambiente corporativo: 82% dos C-levels de 12 países concordam que ética digital é necessária para a popularização da inteligência artificial. Por outro lado, 81% afirmam não confiar na capacidade das organizações em criar tecnologias que sejam éticas.

Para a Avanade, o caminho que respeita os preceitos éticos é aquele que insere essa preocupação em todas as etapas, do desenvolvimento até a relação com o consumidor. Uma preocupação exposta pela pesquisa é em relação a algoritmos que não sejam inclusivos e adaptáveis—ou seja, aqueles que contenham vieses discriminatórios. De acordo com Serigo, os efeitos de uma tecnologia ética podem ser sentidos em todas áreas nas quais inovações podem ser aplicadas, do processo seletivo automatizado que não discrimine candidatos, até uma campanha de marketing digital que não colete dados pessoais de usuários.

Serigo conta que a ética digital ainda caminha a passos lentos no Brasil, mas destaca o setor financeiro como o mais avançado na questão — até porque grande parte utiliza as novas tecnologias em seus processos. “Os bancos e operadores de crédito coletam muitos dados de seus clientes por meio de inteligência artificial”, diz. “Eles estão discutindo como usar essas informações de maneira correta.” No entanto, definir esses limites não é simples. Para Serigo, o caminho é promover a transparência por meio de treinamentos e diretrizes. “A empresa precisa dialogar constantemente com o seu ecossistema para saber até onde os seus clientes e parceiros consideram correto o uso de suas informações”, diz.

“Regulamentação não é suficiente”
A União Europeia e países como Estados Unidos têm discutido como regulamentar as empresas de tecnologia. Três multas já foram aplicadas pela UE ao Google, uma de € 50 milhões, outra de € 4,3 bilhões e, a mais recente, de € 1,5 bilhão. Serigo, porém, acredita que regras não são o suficiente, já que servem como direcionamento para as organizações, mas não conseguem abordar a questão ética nos meios digitais. “No Brasil, está dentro da lei: as empresas podem monitorar a troca de e-mails dos seus colaboradores dentro do trabalho. No entanto, não limita até onde as informações podem ser usadas para encontrar padrões de comportamento dos seus colaboradores”, afirma. “Deixa o caminho livre para cada empresa decidir.”

As empresas já estão se reorganizando para criar estratégias mais éticas digitalmente. Google e Microsoft têm criado comitês e realizado parcerias com universidades para auxiliá-los na análise sobre a questão de ética na tecnologia. No ano passado, a Salesforce contratou Paula Goldman para um cargo recém-criado de chefe de ética digital. “Ética digital significa confiança”, afirma Serigo. “Quem não começar a implantar vai ficar para trás, porque o mercado, tanto os stakeholders como os clientes, pedir mais transparência.”


Fonte: Época Negócios