API: infância na tecnologia, maturidade nos negócios



API: infância na tecnologia, maturidade nos negócios

 

As APIs extrapolaram o domínio de tecnologia ao trazerem diversidade de pensamento aos até então fechados ambientes empresariais.

Faça um teste: tente lembrar quais foram os últimos termos e siglas que estavam na lista de tendências publicadas por revistas de negócios e que todo executivo deveria saber. Com certeza a sigla API (Application Programming Interface) estará na lista.

Ao traduzir a sigla, logo existe uma associação com tecnologia e isto está correto. API faz parte do grupo de conceitos que saíram do mundo de tecnologia para revolucionar a forma como empresas desenham suas estratégias e fazem negócios.

APIs, por definição, disponibilizam funções de negócio representadas em um sistema para utilização por qualquer um que tenha acesso as regras básicas de uso. Pode parecer algo complicado, mas pode ser facilmente entendido ao fazermos uma analogia com o aprendizado de um novo idioma. Um idioma, que tem suas regras fonéticas e gramaticais, atua como uma API para que uma pessoa se comunique de forma eficiente com outra pessoa. Um controle remoto interage com uma TV a partir de uma API, ele sabe decodificar as funções e permite nossa interação com o aparelho. Simples assim.


Apple já atraiu mais de 200 milhões desenvolvedores no mundo
As APIs extrapolaram o domínio de tecnologia ao trazerem diversidade de pensamento aos até então fechados ambientes empresariais. Surgem as grandes experiências de Open Innovation e passamos a ter as corporações colaborando entre si, com a clareza de que a inovação vem da complexidade, quantidade e diversidade das conexões. No best-seller Organizações Exponenciais, Ismail Salim (Singularity University), destaca que, um dos atributos de empresas com capacidade de crescer 10 vezes mais que as outras, é a capacidade de criar uma comunidade que colabora de forma eficiente em torno do seu produto. Foi assim que a Apple cresceu, abrindo sua plataforma para desenvolvedores de software do mundo todo. Tim Cook, atual CEO da empresa, anunciou no último WWDC (Apple Worldwide Developers Conference) que a Apple já pagou mais de 100 bilhões de dólares para mais de 200 milhões de desenvolvedores ao redor do globo.

A crescente relevância das APIs revela uma das questões mais importantes e atuais para os estrategistas empresariais. Até meados dos anos 90 as empresas inovavam predominantemente “para dentro” e raramente tinham a perspectiva de buscar alianças externas para que obtivessem êxito. Com o avanço da economia digital essa realidade mudou. Nos mesmos anos 90, Microsoft e Apple travaram a batalha pela predominância do padrão de softwares para computadores pessoais. Naquela ocasião, a Microsoft adotou a postura mais aberta atraindo desenvolvedores que “entregaram” mais aplicativos compatíveis, enquanto isso a Apple seguiu uma estratégia mais fechada e viu seu modelo ser suplantado pela coalização montada pela concorrente.

Em dos anos 2.000, a Apple pareceu ter entendido a lição e não só lançou um produto de design tentador, mas acrescentou ao iPhone milhares de aplicativos produzidos por desenvolvedores terceiros que enriqueceram a proposta de valor da empresa. Foi a vez da líder Nokia se ver derrotada por uma poderosa coalizão.

Uma estratégia de abertura e de cooperação na economia digital pode definir o sucesso ou o insucesso de uma empresa. As APIs são veículos tecnológicos que explicitam essa estratégia e podem ser os fiadores do crescimento ou causadores de grandes perdas de prestígio e de vendas. A opção por uma estratégia mais fechada pode ser fatal quando reconhecemos que mesmos as maiores empresas de tecnologias do mundo obtiveram sucesso cooperando e atuando como plataformas, integrando o know-how e features de agentes externos.


APIs também pode significar risco
Mas a simples adoção de uma estratégia de APIs abertas não é garantia de sucesso. Um dos mais recentes casos de proporções estrondosas refere-se à apropriação indevida de dados de usuários do Facebook promovida pela empresa de pesquisa e dados Cambridge Analytica. O resultado foi a maior crise institucional da rede de 2 bilhões de usuários no mundo, queda nas ações e uma enorme dor de cabeça para o presidente da Empresa, Mark Zuckerberg. Uma das principais respostas ao problema foi a limitação de dados de usuários, como preferências políticas, que os desenvolvedores deixaram de ter acesso quando estiverem interagindo com a API do Facebook.  Neste caso, uma estratégia e execução equivocada de API colocou a instituição em risco.


APIs são meios, não podem ser lidas como fins
Como toda novidade de mercado, seja de marketing, TI ou Finanças, nunca se pode esquecer que a estratégia de APIs deve estar subordinada ao negócio, criando valor para os clientes e o mercado. Seria um erro ter uma agenda de APIs sem o entendimento de como essa iniciativa pode ajudar a empresa efetivamente. Por esta razão, a jornada de APIs não pode ser capitaneada exclusivamente por TI, o tema é tão sério que requer atenção de todas as funções de negócio e do CEO. A armadilha aqui é querer se apropriar do tema sem sua real compreensão.

Jean Saghaard é Head de Marketing do Bexs Banco, entusiasta do mundo digital e do atrevimento das startups e dos rebeldes corporativos; Jean Streleski é Gestor de Produtos Digitais do Bexs Banco, apaixonado por design e entusiasta da revolução de produtos financeiros.


Fonte: Época Negócios