Ameaçada pela dependência do Android, Huawei lança seu próprio sistema operacional



Ameaçada pela dependência do Android, Huawei lança seu próprio sistema operacional

 

Harmony OS chega ao mercado em 2020 e poderá ser usado em PCs, smartphones, tablets, TVs e até carros.

Segunda maior fabricante de smartphones do mundo e mirando o topo, a Huawei viu seus planos serem ameaçados pela disputa comercial entre os EUA e a China. Desde maio, a gigante chinesa está listada entre as companhias que não podem ter firmas americanas entre seus fornecedores.

A Google, dona do sistema operacional Android, está entre elas. Para se livrar dessa dependência, a Huawei apresentou nesta sexta-feira o seu próprio sistema operacional: o Harmony OS.- É uma geração inteiramente nova de sistema operacional – afirmou Richard Yu, diretor executivo da divisão de consumo da companhia, durante a abertura da Conferência de Desenvolvedores da Huawei, que acontece neste fim de semana em Dongguan, no sul da China.

O nome do sistema operacional foi inspirado em sua proposta: funcionar, de forma suave e segura, em diferentes hardwares. Hoje, cada categoria de produto possui um sistema operacional próprio. A Google, por exemplo, tem o Chrome OS para PCs, o Android para tablets e smartphones, e o Wear OS, para smartwatches. A Apple lançou neste ano uma versão do iOS para o iPad.

A proposta da Huawei é que o Harmony funcione em PCs, smartphones, tablets, smartwatches, TVs, carros, sensores e em futuros dispositivos que ainda serão lançados.- Hoje, os sistemas operacionais são silos desenvolvidos para diferentes ecossistemas. Nós queremos derrubar esses silos – afirmou Yu. – Queremos trazer mais harmonia e conveniência para o mundo.

O Harmony está sendo desenvolvido desde 2017, mas, apesar de ter sido apresentado hoje, chegará em produtos apenas no ano que vem. O cronograma da Huawei prevê que o sistema operacional esteja em PCs e smartwatches a partir de 2020, em alto-falantes e headsets em 2021 e em óculos de realidade virtual em 2022.A apresentação não citava os smartphones e Yu celebrou a parceria com a Google. Porém, em tom desafiador, garantiu que a companhia está pronta para adotar o Harmony a qualquer momento.- Nós apoiamos o Android, entretanto, se não pudermos usá-lo no futuro, poderemos migrar imediatamente para o Harmony – afirmou o executivo. - Talvez possamos fazer isso em um ou dois dias.

A proposta do Harmony está em linha com a visão de futuro da companhia, de um mundo cada vez mais conectado, com cada vez mais dispositivos. Em smartphones, o Android pode ocupar alguns gigabytes de memória para funcionar, mas esse espaço de armazenamento não existe em pequenos sensores.

A proposta do Harmony é funcionar nos gigabytes de PCs, tablets e smartphones, nos megabytes em smartwatches e carros e até nos kilobytes de sensores e outros objetos inteligentes.Para isso, os engenheiros da companhia desenvolveram o sistema operacional modularizado, com arquitetura distribuída. Dessa forma, o Harmony pode se adaptar para cada categoria de produto, com suas especificidades. Para os desenvolvedores, a promessa é que os aplicativos sejam criados apenas uma vez, e adaptados automaticamente para cada formato de dispositivo.Bancar um sistema operacional próprio é um imenso desafio. No passado, gigantes como Microsoft, Nokia, Blackberry e até a Samsung fizeram apostas, mas todas falharam em competir com o duopólio Android/iOS.

A principal barreira era a falta de aplicativos, já que desenvolvedores miram em grandes públicos. Com poucos usuários, um novo sistema operacional tem dificuldade de atrair aplicativos. E sem aplicativos, é difícil atrair os usuários.Mas a gigante chinesa também pode formar uma imensa base de usuários. Segunda maior fabricante de smartphones do mundo, a companhia vendeu 118 milhões de telefones apenas no primeiro semestre, mirando a barreira de 300 milhões para o ano.A empresa também já possui uma loja de aplicativos própria, a AppGallery, bastante popular entre os chineses. No fim do primeiro semestre a loja bateu a marca de 350 bilhões de aplicativos baixados, com 370 milhões de usuários. E para fortalecer o ecossistema, o Harmony terá o código aberto. 

Outras fabricantes chinesas, como Oppo, Vivo e Xiaomi, podem se interessar na substituição do Android.A primeira apresentação pública do Harmony vai acontecer neste sábado, numa TV. Ainda é cedo para avaliar o seu futuro, mas a Huawei mostrou que de ameaçada pela dependência do Android, pode se tornar uma ameaça para o sistema operacional da Google. E tem potencial para se tornar o sistema operacional dominante no futuro da internet das coisas.* O repórter viajou a convite da Huawei.


Fonte: Época Negócios